segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ciência e música: destruição de células cancerígenas




"A relação entre a ciência e a música pode ser encarada como algo muito consistente, e seu início coincide com o próprio aparecimento da ciência moderna. A música, por se tratar de uma atividade com raízes que se entrelaçam com conceitos da física e da matemática, estimula a realização de investigações científicas sobre as suas propriedades. Uma equipe do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenada pela biofísica Márcia Capella, demonstrou a interferência de algumas músicas clássicas em diversos parâmetros celulares, incluindo a viabilidade celular.

No processo, células MCF-7, de câncer de mama humano, expostas à Quinta Sinfonia de Beethoven e à Atmosphères de Ligeti, apresentaram resultados semelhantes: uma em cada cinco células expostas às músicas durante um intervalo de meia hora, morreu. Outra composição musical também foi aplicada, a “Sonata para dois pianos em ré menor” de Mozart, mas não gerou alterações na viabilidade celular. Todas as três composições, contudo, foram capazes de alterar o ciclo regular e alguns outros parâmetros celulares das amostras. A pesquisa utilizou também células renais MDCK, de cachorro, e células K562, de leucemia humana, porém sem estas apresentarem resultados semelhantes ao visualizado no caso das células do câncer de mama humano.

Segundo Márcia Capella, o resultado em si não é de todo surpreendente: “já existem diversos artigos mostrando que frequências sonoras audíveis interferem no crescimento de células em cultura, com a atividade de enzimas intracelulares e com a estrutura de algumas proteínas da membrana celular”. Artigos como Effect of sound wave stress on antioxidandt enzyme activities and lipid peroxidation of Dendrobium candidum e A pilot study on the effect of audible sound on the growth of Escherichia coli, publicados no Colloids and Surfaces B, são exemplos de estudos ligados ao tema. A diferença entre estes estudos citados, assim como muitos outros, e a pesquisa realizada pela equipe do Programa de Oncologia da UFRJ é que no lugar de serem utilizadas frequências puras, foi feito o uso de música, que do ponto de vista físico pode ser classificada como um somatório de diversas frequências sonoras.

Quanto ao uso da técnica na medicina, Márcia Capella explica que é muito cedo para saber se será possível aplicar em humanos. “Falar de uma possível aplicação em humanos nesse momento ainda é pura utopia”, diz a pesquisadora. A utilização da música já ocorre como terapia auxiliar em diversas doenças, mas não com um caráter curativo. É o caso da prática da musicoterapia, que, aplicada por um musicoterapeuta qualificado, busca desenvolver potenciais de um grupo ou indivíduo de forma que seja alcançada uma melhoria na qualidade de vida. Já no caso específico da pesquisa com as células de câncer de mama, é necessário um aprofundamento nos mecanismos do fenômeno observado, além de ser preciso que as condições de cultura de células sejam otimizadas. A partir daí, se for o caso, passar então para os estudos com cobaias.

Contudo, os resultados da pesquisa se mostraram satisfatórios, levando em conta que não era esperada a morte de células cancerígenas, e sim padrões de alterações metabólicos nas mesmas. Questões como o motivo de sinfonias tão diferentes apresentarem resultados semelhantes, e se o efeito final foi resultado das músicas como um todo ou de elementos isolados como o ritmo, o timbre ou a intensidade, ainda precisarão de mais estudos para que sejam respondidas.

Márcia Capella analisa da seguinte forma: “nossos estudos ainda são básicos e respondem uma pergunta muito simples. Se diversos artigos na literatura científica mostram que frequências sonoras audíveis interferem em diversos parâmetros celulares, poderia a música intervir também? Estamos vendo que sim”, conclui a pesquisadora."


* Fonte: Inteligência Musical ; https://www.facebook.com/intmusical/ 
* Publicado originalmente pela Agência UFRJ de Notícias e retirado do site Mercado Ético.

domingo, 30 de agosto de 2015

Morre Oliver Sacks, explorador da mente e a tolerância


O neurologista Oliver Sacks enfrentou nos últimos meses a tarefa mais difícil com que qualquer pensador poderia lutar, sobretudo alguém que dedicou toda sua obra a tentar entender o funcionamento da mente humana: explicar sua própria morte. Em fevereiro, Sacks anunciou em um artigo que sofria de câncer terminal e, neste domingo, faleceu em Nova York aos 82 anos de um câncer de fígado. Teve tempo de publicar suas memórias, On the Move, e escrever uns poucos textos na imprensa em que, com sua característica mistura de humor e lucidez, explorava as certezas da vida quando já sabia que lhe restava pouco tempo aqui embaixo. Uma frase daquele primeiro texto inesquecível, intitulado Sobre Minha Própria Vida, que publicou no The New York Times em meio a uma comoção global, resume suas reflexões: “Acima de tudo, fui um ser com sentidos, um animal pensante, neste maravilhoso planeta e isso, em si, foi um enorme privilégio e uma aventura”.
Sacks, que nasceu em Londres em 1933, mas passou grande parte de sua vida profissional nos Estados Unidos, deixa um punhado de livros inesquecíveis como O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, Vendo Vozes: Viagem ao Mundo dos Surdos, Um Antropólogo em Marte, Com Uma Perna  e Alucinações Musicaise, sobretudo, muitos pacientes cuja vida ficou muito melhor depois de passarem por suas mãos. O falecido Robin Williams, ator cuja mente genial e frágil poderia tê-lo convertido em um de seus personagens, interpretou-o no cinema no filme Tempo de Despertar, de Penny Marshall, que recebeu três indicações para o Oscar em 1990.
Em seus ensaios, Sacks pretende explicar o que nos torna seres humanos, a estranha viagem entre a mente e algo que poderíamos chamar de alma, nós, cada ser individual. Como funciona a memória? Por que e como vemos? O que significa poder ouvir, escutar o que nos rodeia? O que são o amor e o desejo sexual?
O milagre da identidade positiva
Sua grande contribuição foi aproximar milhões de leitores em todo o mundo daqueles que a sociedade se empenha em tratar como diferentes e que Sacks sempre considerou iguais. Ajudou-nos, com textos extraordinariamente divertidos, a compreender a imensa complexidade da mente humana e nos permitiu vislumbrar a forma como todos aqueles que muitas vezes preferimos ignorar enfrentam o mundo. “Não quero parecer sentimental diante da doença. Não estou dizendo que seja preciso ser cego, autista ou sofrer de síndrome de Tourette, absolutamente, mas em cada caso uma identidade positiva surgiu após algo calamitoso. Às vezes, a doença pode nos ensinar o que a vida tem de valioso e nos permitir vivê-la mais intensamente”, explicou em uma entrevista a este jornal em 1996.
Oliver Sacks nasceu em Londres e viveu na capital britânica os bombardeios nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Sobre essa experiência escreveu um grande artigo, publicado no The New York Review of Books, com o título Fala, Memória, em que explicava os complexos mecanismos da memória e a capacidade dos seres humanos para gerar lembranças inexistentes que ao final são tão sólidas e reais como as autênticas. Sua carreira científica se desenvolveu nos Estados Unidos – mas nunca chegou a ser cidadão americano – e se ganhou fama como médico nos anos 1960 por causa de seus ensaios sobre o mal de Parkinson (precisamente a história que conta em Tempo de Despertar). Seus livros proporcionaram a ele um reconhecimento mundial.
É difícil selecionar algum de seus personagens acima de outros. O autista que se aproxima da linguagem através do desenho – “O artista autista” em O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu – pode servir para resumir sua forma de conceber a medicina e a literatura. O paciente se permite escrever a Sacks: “Ser uma ilha, estar separado, é inevitavelmente uma morte? Pode ser uma morte, mas não inevitavelmente. Porque embora se tenham perdido as conexões horizontais com outros, com a sociedade e a cultura, pode haver conexões verticais, intensificadas e vitais, conexões diretas com a natureza, com a realidade, sem influências”. Seu personagem conseguia essas conexões diretas através de sua capacidade de desenhar. Seu desafio como cientista era dar-lhe uma oportunidade, procurar formas de orientá-lo e conseguir que encontre uma vida plena em sua diferença radical. Esse foi sempre seu objetivo como cientista e como escritor.
Em seu obituário, o The New York Times conta um caso que resume muito bem sua forma de ver o mundo: recebia 10.000 cartas por ano, mas respondia sempre “aos menores de 10 anos, aos maiores de 90 e àqueles que estavam na prisão”. Escreveu seu último artigo no início de agosto, intitulado Minha Tabela Periódica: lamentava ao mesmo tempo tudo o que ia perder na iminência da morte – explicava que já se encontrava muito doente – ; mas também celebrava a densidade de sua existência. E não pensava em se render: “Queria me divertir um pouco fazendo uma viagem à Carolina do Norte para ver o maravilhoso centro de pesquisa sobre lêmures da Universidade Duke. Os lêmures estão próximos à estirpe ancestral de que surgiram todos os primatas, e eu gosto de pensar que um de meus próprios antepassados, há 50 milhões de anos, era uma pequena criatura que vivia nas árvores não tão diferente dos lêmures atuais. Eu adoro sua vitalidade saltitante e sua natureza curiosa”.
Sua obra é uma descomunal lição de solidariedade, que segue a fundo o princípio que Atticus Finch, protagonista do romance O Sol é para Todos, de Harper Lee, explica a seus filhos como grande lição de vida: “Você só conhece realmente uma pessoa depois de calçar seus sapatos e caminhar com eles”. Sacks nos obrigou a caminhar com muitos sapatos – os de um cego, os de um pintor que perdeu a percepção de uma cor, os de um autista, os dos surdos – e o fez de forma extraordinariamente divertida. O fato de que, como contou recentemente, sua mãe o amaldiçoar quando confessou a ela sua homossexualidade, certamente influiu de maneira profunda na tolerância com a diferença que marca todos os seus ensaios. Mudou a forma de vermos os outros e de vermos a nós mesmos, e isso é algo que se pode dizer de muito poucos autores.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/30/internacional/1440927890_617327.html

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Música para "Despertar" - Música Estimula Pacientes com Alzheimer...





Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=YkfkF5xKm7k

Nova tecnologia permite enxergar áreas do cérebro em resolução nanoscópica



Cientistas americanos criaram uma inédita técnica de mapeamento de alta resolução do cérebro, capaz de registrar estruturas microscópicas, como as células nervosas, com alto nível de detalhes.

Os pesquisadores construíram o mapa 3D a partir de uma compilação de imagens registradas em resolução nanoscópica. A ideia dos cientistas é usar a ferramenta para estudar a formação e as ligações entre as células que geram distúrbios neurológicos como esquizofrenia e depressão.

“Estamos falando de um detalhamento de imagens próximo do nível de uma molécula”, afirma Narayanan Kasthuri, neurologista da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que liderou a equipe responsável pelo mapeamento.

Os pesquisadores comandados por Kasthuri construíram um sistema que fatia o cérebro estudado em milhares de pedaços. Após marcar as seções, separando os diferentes tecidos conjuntivos, um microscópio eletrônico registra imagens de cada pedaço. Um computador, por fim, escolhe diferentes cores para cada estrutura individual do órgão e sobrepõe as imagens, formando um mapa 3D.

Os cientistas testaram o sistema ao mapear a área do cérebro de um rato responsável pelas percepções sensoriais. Os resultados foram publicados na revista científica Cell.

Técnicas de mapeamento cerebral tradicionais, como a ressonância magnética, conseguem registrar estruturas com, no mínimo, um milímetro. A ferramenta de Kasthuri faz isso em nível nanoscópico, conseguindo capturar células individuais do cérebro, assim como seus conteúdos e conexões. “Um pixel em uma ressonância magnética é igual a um bilhão de pixels em nossas imagens”, afirma o pesquisador.

A máquina será usada para registrar imagens do cérebro de pessoas mortas. A equipe espera que, ao rastrear os chamados “caminhos neurais”, possa resolver questões sobre como um distúrbio neurológico age dentro do cérebro. “Se pudermos fazer um mapa do cérebro de um paciente com esquizofrenia e o compará-lo com um órgão sem a doença, poderemos procurar por conexões que possam contribuir para gerar o distúrbio”, afirma Kasthuri.

O problema é que a máquina exige uma quantidade gigantesca de poder computacional. Apenas a imagem do cérebro inteiro de um rato ocuparia bilhões de gigabytes de dados, diz Kasthuri. Mas o pesquisador espera que a arquitetura de armazenamento dos computadores torne o mapeamento completo possível em, no máximo, cinco anos.

A equipe agora trabalha em uma máquina que usa computadores para rastrear neurônios individuais no cérebro e analisar suas conexões.

Fonte: http://www.institutoneurologico.com.br/

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cigarro pode favorecer distúrbios psiquiátricos

As informações fazem parte de um estudo publicado na revista "Lancet Psychiatry".



Agora além de ser conhecido por causar câncer e doenças cardiovasculares, o cigarro também pode aumentar o risco de transtornos psiquiátricos graves. Uma "associação" estatística entre o fumo e as psicoses, em especial a esquizofrenia, foi descoberta em análises anteriores, lembram os investigadores europeus que assinam o trabalho.


Os especialistas observaram que as pessoas com transtornos psiquiátricos graves eram significativamente mais propensas a fumar, com taxas de tabagismo entre os psicóticos três vezes maior do que na população geral. Mas "as razões pelas quais as pessoas com psicose são mais propensas a fumar do que o resto da população permanecem obscuras", escreveram eles em seu artigo.


É a doença e/ou os tratamentos psiquiátricos usados para combatê-las que encorajam o tabagismo? Várias teorias nesse sentido têm sido propostas, em particular o fato de que o cigarro ajudaria a compensar os efeitos das drogas sobre a regulamentação da dopamina, um neurotransmissor associado ao mecanismo de recompensa.

Mas alguns pesquisadores se concentraram na ideia de que o próprio cigarro "poderia aumentar o risco da ocorrência destas doenças".

Este estudo procurou especificamente testar esta hipótese e determinar se a psicose é declarado mais cedo em fumantes do que entre os não-fumantes.


Resultado claro após análise

Deste trabalho de "meta-análise" epidemiológica (que consiste na análise de vários estudos realizados anteriormente, envolvendo um total de 14.555 fumantes e 273.162 não-fumantes), foi extraído um resultado bastante claro.

"O consumo diário está associado a um risco aumentado de psicose e ao início mais precoce dos transtornos psicóticos", escreveram os autores do artigo, Pedro Gurillo (hospital de Torrevieja, no leste da Espanha) e Sameer Jauhar (King's College de Londres).
No início da doença, os psicóticos são três vezes mais propensos a serem fumantes do que o resto da população. "Embora seja sempre difícil determinar a causalidade, nossos resultados mostram que o tabagismo deve ser seriamente considerado como um possível fator de risco no desenvolvimento de psicoses e não é considerado como uma simples consequência da doença", explicou James MacCabe(King's College), também autor do estudo.

Um "nexo de causalidade" ainda precisaria ser plenamente demonstrado, mas os pesquisadores apontam para uma possível explicação: a dopamina.

"É possível que a exposição à nicotina aumente a liberação de dopamina, o que resulta no desenvolvimento de psicoses", já que o excesso de dopamina no corpo é uma das hipóteses para explicar a esquizofrenia, afirmou Robin Murray, da King's College.

Este artigo e outro trabalho sueco publicado recentemente sobre tabagismo e esquizofrenia, "argumentam fortemente em favor de uma relação causal entre tabagismo e esquizofrenia", avaliou o psiquiatra Michael Owen (Universidade de Cardiff).

Mas para Michael Bloomfield (University College London), "ainda há muito trabalho a ser feito antes que os cientistas possam declarar com certeza que fumar realmente aumenta o risco de esquizofrenia".

Fonte: http://www.momentoverdadeiro.com/2015/07/cigarro-pode-favorecer-disturbios-psiquiatricos-sugere-estudo.html