sexta-feira, 13 de junho de 2014

Autismo e Musicoterapia


Musicoterapia

Cátia Vanessa Oliveira Ferreira

Autismo e Musicoterapia

A perturbação do espectro do autismo vêm sendo estudada, afincadamente pela ciência, desde há seis décadas. Contudo, ainda existem muitas divergências e questões por resolver, devido à diversidade de características que pode apresentar.
Atualmente, a perturbação do espectro do autismo define-se pela apresentação de alterações em três áreas principais:
1) interação social
2) linguagem usada na comunicação social
3) jogo simbólico ou imaginativo.
Ao aparecerem juntos, estes desvios caracterizam esta perturbação, sendo denominados de Tríade. À Tríade é normalmente atribuída a responsabilidade do padrão de comportamento apresentado pela criança. Porém, além desta Tríade, podem também ocorrer alterações motoras e cognitivas (principalmente nos processos perceptivos sensoriais).
Com o intuito de desenvolver estas competências, emergiram diversas terapias. Todavia, têm-se vindo a denotar dificuldades em motivar as crianças e adolescentes a participar nestas intervenções. Consequentemente, tem-se procurado desenvolver modelos terapêuticos alternativos, que contenham uma vertente mais lúdica e estimulante para os participantes. Um exemplo disto é a Musicoterapia.
A Musicoterapia é uma técnica terapêutica em que o musicoterapeuta utiliza a música e os seus elementos constituintes como ferramenta, com participação ativa ou passiva por parte do utente. Este processo tem como objectivo principal a promoção de mudanças no comportamento (por exemplo na comunicação, relacionamento, mobilização, expressão e aprendizagem) atendendo às necessidades apresentadas pelo utente. Assim sendo, a musicoterapia procura desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do individuo para que este alcance uma melhor compreensão de si mesmo e possa adaptar-se mais adequadamente à sociedade que o rodeia.
Música é uma arte e uma ciência para exprimir sentimentos através de sons. Atendendo a esta definição, compreende-se que esta ferramenta tornase muito útil para a intervenção na Tríade que caracteriza a perturbação do espectro do Autismo.
Sendo um meio de expressão não verbal, a música facilita a interação social, através da utilização de instrumentos musicais. O tacto, a forma e o som do instrumento pode fascinar a criança e, desta forma, converter-se num intermediário para o contacto entre terapeuta e utente. Ao longo do processo, a música produzida por ambos pode tornar-se numa fonte para o estabelecimento de outras relações que promovem comportamentos sociais mais adequados.
Numa fase inicial, a terapia pode trabalhar para estimular o desejo de comunicar. Por um lado, pode-se incentivar acomunicação não verbal, acompanhando a criança nas suas expressões habituais. Por outro lado, pode despertar a produção de vocábulos, que ao longo do processo se transformam em palavras e frases. Através do canto, de vocalizações e da prática de um instrumento de sopro, as sessões de musicoterapia podem ajudar a criança a desenvolver todos os mecanismos físicos necessários à linguagem. Além disto, estes métodos facilitam a verbalização de vocábulos próximos a palavras. Numa fase posterior, pode-se utilizar as letras das canções para estimular a estruturação de frases importante para a comunicação no seu quotidiano. Em algumas circunstâncias, a terapia através da música reduz as vocalizações não comunicativas que impedem o progresso durante a aprendizagem da linguagem.
A dificuldade no jogo simbólico ou imaginativo caracteriza-se pela rigidez e inflexibilidade nos comportamentos e pensamentos da criança. A música estimula a improvisação e a criatividade, permitindo que a criança experimente vários sons e os combine de diversas formas. Consequentemente, dá a oportunidade à criança de criar algo novo, tirando-a dos seus comportamentos padronizados. Durante estes processos de criação, a criança adquire uma nova forma de transmitir os seus sentimentos, através do estilo de música que produz. Cabe ao terapeuta observar este processo e valorizar os sentimentos demonstrados pela criança. A escuta de vários estilos musicais e respetiva avaliação do gosto da criança também pode dar-nos informação sobre o estado emocional da criança.
A prática de instrumentos musicais desenvolve a motricidade, podendo-se escolher o instrumentos mais direcionado para o desenvolvimento do ato motor que se pretende desenvolver. Também podem ser elaborados jogos musicais ou danças com o intuito de praticar determinado gesto. Por fim, a musicoterapia estimula o processamento de estímulos sensoriais, ao exercitar simultaneamente todos os sentidos de uma forma harmoniosa e agradável. Desta forma, reduz os comportamentos considerados como patológicos.
Vários estudos demonstram resultados positivos no tratamento do autismo através da musicoterapia, principalmente por esta apresentar a vantagem de ser apreciada pelos participantes. Tal aderência relaciona-se com a valorização da participação do utente, respeitando-se qualquer que seja a sua forma de expressão. Assim, não são cobrados resultados, nem apresentadas pressões que causam tensões no individuo. Pelo contrário, as técnicas usadas promovem o relaxamento e a desinibição que, encarados como a base para a estruturação do restante processo, permitem a intervenção nas necessidades apresentadas.
Em suma, os benefícios da musicoterapia para o autismo incluem:
  • contribuição para o desenvolvimento social;
  • ampliação da interação com o mundo;
  • facilitação da comunicação verbal e não verbal, o contato visual e táctil;
  • facilitação da criatividade; promoção da satisfação emocional;
  • Contribuição para organização do pensamento;
  • diminuição dos movimentos estereotipados;
  • melhora da qualidade de vida do autista e de sua família.
 Fonte: http://www.apeeautismo.org.pt/index.php/terapias/musicoterapia